Problematização:
A cultura do turismo reproduz os
determinantes sociais dos trabalhadores: Há evidencias que sim!
Justificativa
Na
música vida de gado do cantor Zé Ramalho, logo em sua primeira estrofe, tem sua
essência o conceito de alienação expressa quando diz que a massa (povo) dão
mais do que recebe. No restante da música a temática permanece inclusive no
refrão que compara o povo com gado marcado, porém feliz. Essa reflexão nos
mostra como já é cultural ser alienado no Brasil e ter como normal a exploração
que se faz do trabalho dos mais humildes. Face a essa cristalização da
ideologia de dominação e exploração da mão de obra, definimos que em nosso
trabalho de campo pesquisaremos uma localidade que tem uma ideologia de cultura
turística construída, através da exposição midiática, que se faz para atrair
visitantes de todas as partes do mundo. Com a colaboração teórica de Dias
usaremos o conceito de estranhamento social na qual fixa que é essencial
identificar aquilo que não esta evidente dentro do contexto social dos
comportamentos humanos, ou com expõe Dias “ Dentro dessa perspectiva, um dos
principais objetivos está em identificar aquilo que não esta evidente, não
parece claro, e quais os padrões e as influências do comportamento social”
(Dias, 2010, 07). Dentro dessa perspectiva iremos olhar as interações sócias,
mais especificamente as do trabalhadores da indústria do turismo, e perceber
como essa alienação se dá na sociedade estudada.
Tendo como
base teórica o texto de Damatta o grupo propôs fazer uma pesquisa de campo na
praia de Canoa Quebrada Ceará, para ter
uma visão crítica da realidade dos trabalhadores da indústria do turismo
identificando se existe reificação dessa cultura de turismo nessa localidade.
Ou como o próprio Damatta traz em seu texto:
No caso do homem, a cada sociedade corresponde uma
tradição cultural que se assenta no tempo e se projeta no espaço.” Daí o
seguinte postulado básico: dado o fato de que a cultura pode ser reificada no
tempo e no espaço (através de sua projeção e materialização e objetos), ela
pode sobreviver à sociedade que a atualiza no conjunto de praticas concretas visíveis. Assim pode haver cultura sem
sociedade embora não pode existir sociedade se cultura. (DAMATTA, Roberto. 1987. pag 50)
Como Damatta expôs em seu texto (1987, 50) que a cultura quando
existente ela esta reificada na sociedade e os indivíduos fazem suas escolhas de
vida baseados na cultura vigente, dentro dessa pesquisa pretendemos ainda
conhecer se na cultura do turismo na praia de Canoa Quebrada as escolhas são
feitas influenciados por essa cultura, tendo por base teórica a afirmação de
Damatta:
Assim..., na discussão da
realidade humana, o conceito de sociedade deve ser sempre complementado pela
sua outra face, a noção de cultura que remete ao texto e aos valore que dão
sentido ao sistema concreto das ações sociais visíveis e percebíveis pelo
pesquisador. A noção de cultura permite descobrir uma serie de dimensões
internas ligadas ao modo de como cada papel é vivenciado, além de identificar
as escolhas que revelam como esse grupo difere daquele na sua atualização como
uma coletividade viva. (DAMATTA,
Roberto. 1987. pag . 56)
E ainda,
trabalharemos com a intenção de saber se
os trabalhadores da indústria do turismo estão alienados em relação ao que o
turismo pode trazer de benefícios aos moradores daquela comunidade. Para tal,
lançaremos mão do pensamento de Karl
Marx respeito da alienação no qual expõe
que a alienação do trabalho é gerada quando o
ser humano é explorado e o lucro que advêm dessa exploração fica não dos
exploradores e rompe o homem de si mesmo. Ou seja, veremos como a cultura
indústrial do turismo, enquanto gerador de “oportunidades” alienia o
trabalhador.
Dentro de
nossas descobertas, com a pesquisa feita, mostraremos que a questão da cultura
pode direcionar as decisões humanas e ainda identificar possíveis problemas que
o turismo enquanto ideologia de cultura (mesmo que construída) pode alienar os
trabalhadores em relação ao tipo de exploração que essa indústria do turismo
pode fazer com eles, deste modo observaremos a história de vida dos
trabalhadores e suas constituições culturais alienativas, enquanto operários da
indústria ideológica do turismo em Canoa Quebrada. Se tais fatos se
evidenciarem nas respostas chamaremos a atenção dos leitores que o turismo da forma que o turismo é
enaltecido, naquela localidade, nos anúncios dos meios de comunicação em massa
tem também seu lado maléfico que possivelmente seja diluído com a indústria
cultural que se constrói para exploração desse setor econômico.
Objetivo geral:
Dentro da cultura do turismo e do trabalho que
ele gera identificar quais são os benefícios e\ou malefícios que a indústria do
turismo proporciona aos nativos da praia de Canoa Quebrada bairro de
Aracati-Ceará.
Objetivos específicos:
Verifica
se a cultura do turismo esta reificada dentro da praia de Canoa Quebrada.
Analisar se a cultura do turismo influência nas escolhas dos moradores de Canoa
Quebrada. Identificar se o trabalhador do turismo em Canoa Quebrada esta
alienado em relação a sua força de trabalho.
Metodologia:
O trabalho
foi feito através de entrevista usando um questionário com 15 perguntas
relacionadas a atividade profissional ligada ao turismo e a saúde do
trabalhador e as condições de vida deste. Utilizamos de recursos fotográficos e
gravação de vídeo. Foi realizado no dia 03/10/2012 às 9:30hrs até às 13:00hrs.
Resultados:
Entrevistamos
vinte pessoas que trabalham no setor do turismo na comunidade entre eles
vendedores ambulantes, bugreiros e guia
turístico. Em sua maioria 17 não teve críticas a fazer ao turismo na cidade, pelo contrário a
maioria das respostas eram que o turismo era ótimo para cidade para eles.
dezenove disse não se sentir explorado em seu trabalho por não existir a figura
do patrão e o conceito de exploração desses
dezenove era justamente a figura do patrão exigindo mais esforço do
empregado. Apenas 03 vendedores tiveram alguma crítica ao turismo: uma disse
que o turismo fazia com que os produtos encarecem os preços de produtos nos
supermercados pois a venda de tais tinha um preço que era para turista e os
nativos acabavam pagando esse alto preço. Outro ambulante se sentiu explorado
em seu trabalho apesar de não ter a figura do patrão, mas por ter que andar o
dia todo no sol. Por ultimo uma
vendedora disse existir um certo
controle para poder vender e não tem a liberdade de vender todos artesanatos
que produz.
A maioria
os entrevistados tem familiares que trabalham no turismo. Tal fato se evidencia
pois na explicação dos entrevistados só há poucas formas de ingresso no mercado
de trabalho naquela localidade e a forma mais expressiva é a da indústria do
turismo.
Outro dado
que analisamos em nossas pesquisa foi o da saúde do trabalhador e a o maior
percentual de entrevistados disse nunca ter sofrido acidente durante o trabalha
nem ter doença decorrente dele. Os equipamentos ou roupas de proteção dos
trabalhadores em sua maioria se limitava a creme protetor solar, boné ou óculos
de sol. Só existe um posto de saúde na praia. Mas o interessante é que a todos
responderam que quando precisam de médico não encontram no posto de saúde e têm
que se deslocar até a cidade de Aracati-Ceará. Ainda nesse tópico.
Na área do
saneamento básico todos tem água encanada, usam fossa como sistema de descarga
de dejetos. A metade tem a rua calçada e sobre a coleta de lixo só duas pessoas disse que não há coleta.
A nossa
pesquisa permitiu identificar que a tradição cultural de Canoa quebrada, que o
turismo, esta bem clara no tempo (há anos) e no espaço(em toda a cidade, no
comercio, nos serviços, nos investimentos, nas propagandas da cidade, etc.).
Ela esta reificada (coisificada), pois os objetos a venda conotam o turismo
(lembrança da cidade, camisas etc.). Também se coisifica porque é uma forma de
vida dos trabalhadores do turismo, uma vez que, em sua maioria, passam a maior
parte do dia, e isso todos os dias, vendendo ou atendendo aos turistas. A
maioria deles já incorporaram esse modo de vida e não querem ter outra
profissão, apesar de ser uma cultura “construída” (essa do turismo em Canoa
Quebrada) o bairro é uma sociedade que
existe com essa cultura (mas essa cultura do turismo existe em outras
sociedades). Tal sociedade, em questão,
tem valores que dão sentido ao seu jeito de ser e na noção de cultura que
encontramos como os indivíduos fazem suas escolhas e porque decidem serem desse
ou de outro jeito. Ou como afirma Damatta “...Não existe, pois, coletividade
humana que não se utilize de uma noção de sociedade ou de cultura para exprimir
partes de sua realidade social” (Damatta 1987, 57). A pesquisa permitiu, ainda,
constatar que na cultura do turismo - que na cabeça deles é ótima - encontram
as razões das escolhas profissionais. Entre os 20 entrevistados, todos
mostraram que o turismo foi o fator determinante para sua escolha profissional.
Apesar de cada um dar uma variante
de explicação mais especifica, como por
exemplo, fonte de renda, ciclo de amizades ou ver seus pais trabalhando nisso,
a grande maioria teve sua escolha norteada pela cultura do turismo. Ou seja,
Culturalmente falando, o turismo em Canoa quebrada é de forte influência nas
escolhas de vida dos seus trabalhadores, ou ainda, nas palavras de Damatta:
“... Mas também utilizamos a moldura cultural para exprimir e englobar condutas
racionalizando-as e legitimando-as”(Damatta 1987, 57). Vale notar que apenas um
dos entrevistados disse que se tivesse oportunidade de estudos teria outra
profissão (advogado), no entanto estava satisfeito com a que exercia como
ambulante.
Com olhar
crítico verificamos que existe uma alienação com relação a exploração econômica
da mão de obra, poi os entrevistados disseram em sua maioria que só se sentiria
explorado se houvesse a figura do patrão. Até mesmo os que produzem algum tipo
de artesanato ou produto de uso doméstico como é o caso do óleo de coco de Fatinha que diz não haver exploração de sua
produção. A alienação existe pois o trabalhador não consegue relacionar que seu
trabalho dentro da indústria do turismo que gera uma renda que não fica em suas
mãos, pois como se verificou a maioria vive com pouca renda de seu trabalho,
trabalha durante a maior parte do dia, todos os dias. Seguindo o conceito de
mais-valia de Marx onde o trabalho gera
riqueza só que esta riqueza não fica na mão do trabalhador do turismo tão pouco
retorna para ele com investimentos, como por exemplo na saúde ou no saneamento
básico. Na verdade existe um investimento na praia de Canoa Quebrada só que
este é feito na própria indústria do turismo com construção de monumentos que
enaltecem o turismo e nas infra
instrutura do comércio e isso só favorecem os grandes empresários e
comerciantes do turismo. Pode notar também nos investimentos que fazem nas
propagandas criando a ilusão de um lugar perfeito. Em detrimento disso sofre os
setores que deveriam ter o minimo de atenção como o da saúde. Em nossa visita
ao único estabelecimento de saúde da praia verificamos um prédio com um
ambulatório, uma sala de dentista e duas salas de enfermaria nenhum médico de
plantão e nenhuma ambulância. Esse quadro do posto de saúde demonstra que
apesar de a localidade ter um estabelecimento de saúde, as instalações não são
suficientes para atender toda a demanda dos moradores, muito menos as do
turistas que a visitam. A ausência de profissionais de saúde é a marca do
cenário de saúde pública na afamada praia turística de Canoa Quebrada, pois
durante a entrevista todos, sem exceção, alegaram essa deficiência e tal fato
se confirmou com nossa visita às instalações.
Conclusão:
Retomando o que foi dito em princípio (na
justificativa) a vida de gado que as pessoas levam sendo encurraladas a
trabalhar no setor do turismo, na sociedade estudada, as deixa alienadas, pois apesar
de não perceberem os benefícios que o turismo não traz a comunidade local, não
deixam de festejar a oportunidade de serem explorados. Talvez a melhor solução
a se apontar seja a mais difícil e reside em conscientizar aquela sociedade da
realidade que os cerca, mas não deixa de ser uma boa orientação a se seguir.
Referencia:
DAMATTA, Roberto.Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social. Rio de
Janeiro: Rocco, 1987. p. 246.
DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. São Paulo: Pearson , 2007.
MARX, Karl. O capital. Coleção Os
economistas. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
RAMALHO. Zé. Vida de gado.
RAMALHO. Zé. Vida de gado.
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