Autores²: Alex
Andrade, Jéssica Rayonara Nascimento, Karolayne de Souza Fernandes, Michael
Hudson Dantas, Mora Kissi de Oliveira Nascimento, Priscila Augusta Silva de
Carvalho.
Resumo: Esse trabalho tem como objeto de estudo a abolição
da escravatura no Brasil, como objetivo um olhar critico para o fim da
escravidão no Brasil. O método usado foi uma revisão textual em (DAMATTA,
1987), (LESSA, 2011), (MELLO, 1982), (JÚNIOR, 1987), e pesquisa em obras mais
significativas, tais como (CARDOSO, 1962) e (FURTADO, 2009) para fundamentar
nosso trabalho. O resultado foi a uma reflexão mais assídua: “Foi de fato, a
abolição da Escravidão, à libertação para o negro, ou foi uma forma diferenciada
de desumanização?”. Concluímos que houve uma libertação física, no entanto não
houve a emancipação política, social e educacional do negro.
Palavras chaves:
Abolição. Desumanização. Escravidão. Negro. Trabalho.
Introdução
O assunto
tratado é a abolição da escravatura no Brasil com um olhar critico pretendendo
ver a realidade em que se deparou o negro liberto sem condições mínimas de
sobreviver dignamente. A motivação é
apresentar o presente artigo para avaliação da disciplina Formação Econômico,
Social e Política do Brasil e para tanto decidimos abordar esse assunto com um
ponto de vista diferenciado da forma como ele, geralmente, é tratado. A
relevância do tema se torna pertinente, pois ajuda a compreender de modo
crítico o processo de abolição do negro no Brasil. O artigo está estruturado
assim: Um breve resumo do sistema escravista, os motivos econômicos que levaram
ao fim da escravidão e as consequências. Em seguida salientamos a exclusão
social e a desumanização que o negro sofreu, e concluímos reafirmando a forma
de total exclusão social que este recém-liberto sofreu.
1.
O escravismo no Brasil
O
momento em que se situa o escravismo no Brasil é o de terra colonial, onde a
monarquia portuguesa tinha o objetivo de explorar a nova terra. Contudo, para
explorar a terra, fez uso de mão de obra escrava oriundas dos tráficos
negreiros que vieram da África. Afirma Caio Prado Junior (PRADO, 1987) que a
metrópole (Portugal) tinha a pretensão de constituir uma colônia baseada em um
regime agrário de grandes propriedades, com uma monocultura de exploração
utilizando o trabalho escravo. Ou, como ele mesmo descreve a estrutura agrária
(o mesmo pode-se dizer da economia escravista mineira) do Brasil colônia: são
estes, em ultima análise, os fatores que vão determinar a estrutura agrária do
Brasil colônia, os três caracteres apontados: a grande propriedade, monocultura
e trabalho escravo, são formas que se combinam, se completam, e se derivam
diretamente e como consequência necessária daqueles fatores.
Como
vemos, a presença do sistema escravista era imprescindível para atender aos
interesses da metrópole, e esse sistema vai perdurar por um bom período de
tempo até que em 1888, pela assinatura da lei áurea, pela princesa Isabel, os
escravos são libertos. É evidente que
vários fatos - tais como movimentos de revolta, constituição de quilombos,
movimentos abolicionistas, intervenção de outros países para o fim do tráfico
de escravo, entre outros - que envolvem o desenrolar da história do escravismo
no Brasil, no entanto, nossa pretensão é de focar o como se deu esse fim face à
necessidade econômica e política que acontecia no mundo de então (a saber, a
necessidade de expansão do capitalismo mundial inclusive pelas terras do novo
mundo) e seus desdobramentos.
2. Fim do escravismo: humanização
ou desumanização do negro?
Conforme
já citado houve vários eventos que permearam o processo histórico do escravismo
no Brasil, entre eles estão os que cooperaram para o fim do escravismo, no
entanto, nossa abordagem, será numa perspectiva econômico-social e nos
deteremos a expô-los na construção do nosso texto. Conforme João Manuel Cardoso
de Mello os custos da indústria escravista eram superiores aos da indústria
capitalista o que tornava inviável a manutenção do escravismo diante dos
avanços do capitalismo no mundo. De uma forma mais prática sairia muito mais em
conta pagar o salário de um operário do que sustentar um escravo, pois na
produção o operário conseguia desenvolver melhor seu trabalho, gerando
consequentemente mais lucro para seu patrão, já o escravo não, por que seu
sistema de trabalho não estava inserido dentro da lógica capitalista. Cardoso, em sua obra Capitalismo e
Escravidão no Brasil Meridional, afirma que:
O
sistema escravocrata por condições inerentes a si mesmo, constituía um
obstáculo para o desenvolvimento das forças produtivas do modo capitalista de
produção. Vemos que a necessidade do fim do escravismo se dava por várias
questões, mas as questões de ordem econômica suplantavam as demais (CARDOSO
1962. p 203).
A produção da indústria capitalista dos países
europeus avançava na dimensão de suas unidades, gerando economias de escala
cada vez mais significativas, já a produção do sistema escravista estava
estagnada pela sua própria inércia. João
Manuel Cardoso de Melo (1986) diz que “o sistema escravista era incapaz de
suportar a concorrência da indústria capitalista dos países centrais”. (MELLO,
1982, p.)
Outro
ponto a ser levado em consideração de ordem política e econômica foi a abolição
do tráfico internacional de escravos promovido pela principal potencia
econômica capitalista da época, a Inglaterra, que estava vivenciando o auge da
revolução industrial, e necessitava
expandir seu mercado, comercializando direto com o Brasil que ainda era colônia
de Portugal. Uma das imposições da Inglaterra era a abolição do tráfico de
escravos, e isso tornou cada vez mais caro a manutenção desse sistema
(escravocrata), pois não havia mais tantos escravos disponíveis para suprir as
demandas escravocratas. Outro fator
de ordem econômica, posto por João Manuel Cardoso de Mello (1982), era o fato
de que a mão de obra escrava não tinha uma divisão técnica do trabalho, dada
por sua própria condição:
A escravidão bloqueava tanto uma maior divisão
técnica do trabalho, quanto a especialização do escravo, porque era próprio de
sua condição que se mantivesse res. A produtividade do trabalhador assalariado,
[...] utilização da capacidade produtiva e preços, haveria de ser muito
maior... (MELO, 1982, p. 75).
Vemos
que fica evidente que a questão econômica para o fim do escravismo teve um
imenso peso condicionante para tal.
3. A abolição da escravatura e suas
consequências
Como
é sabido, em 1888 por intermédio da lei Áurea, é decretado o fim da escravidão
no Brasil. Mas, como é sabido também, esse fato é amplamente divulgado como um
evento do fim do sofrimento da raça negra no Brasil. De fato não deixa de ser
um elemento positivo, entretanto, o fim da escravidão é o início do processo de
marginalização e desumanização do negro, pois esse acontecimento foi muito mais
prejudicial a esse (negro) do que para o próprio senhor de escravo. Com os
escravos libertos surge no cenário Brasileiro uma grande massa de negros livres
sem perspectiva nenhuma de futuro; estavam dissociados socialmente e
economicamente do resto da população. A lei Áurea proveu o fim da escravidão,
mas não o inicio da dignidade e humanização do negro brasileiro.
A
grande questão que se levanta é como os negros, agora libertos, não têm os
meios de produção, não possuem terras para habitar e sem nenhuma perspectiva,
iriam se refazer como seres humanos. Foram lançados ao destino cruel, ao amanha
incerto. Observando a realidade social dos recém-libertos, eles não eram nem
possuidores dos meios de produção nem tão pouco mão de obra disponível, eram
simplesmente negros livres que foram destituídos de sua condição escrava pra
uma condição social indefinível para humanos, saíram da realidade escrava para
uma realidade que não lhes cabia.
Da
Matta (1987) ao citar Marx diz que "os homens fazem a sua própria
historia, mas não a fazem como querem; sobre as circunstancias de suas
escolhas, e sim sobre aquelas que se defrontam".
Os
negros sentiram extrema dificuldade em sobreviver em uma sociedade que estava
surgindo, sociedade essa que eles não tinham espaço, pelo fato de nunca terem
sido preparados para a emancipação política que passaram a vivenciar. Em outras
palavras, os ex-escravos estavam diante de uma condição política que lhe davam
o direito a liberdade de seu senhor, no entanto, estavam engendrados a uma
realidade social que os desumanizavam e os degradavam, pois, sem acesso ao
trabalho, o que na visão marxista, é a condição que o homem precisa para se
realizar como indivíduo.
3.1 Exclusão social
De acordo com Marx, a
sociedade divide-se em duas classes (exploradora e explorada), no entanto, ao
libertarem-se, os negros ficaram marginalizados nessa divisão social, não se
encaixavam em nenhuma destas classes, pois ao mesmo tempo em que eles se
encontravam livres, encontravam-se segregados de uma sociedade a qual não lhes
dava oportunidades de exercer essa liberdade de modo que eles pudessem
trabalhar dignamente e viver da forma que lhes condicionassem oportunidade de
escolha na nova vida. É fato de que de em toda sua história, não tiveram
nenhuma educação ou qualificação profissional. Portanto, podemos entender que
não era de interesse daqueles que detinham o poder econômico e político
proporcionarem-lhes não só a emancipação política, mas econômica e social. De
acordo com Cardoso (1962), os negros foram tão alienados durante o processo de
escravidão que ao serem libertos tiveram que passar por um processo de
ociosidade social para se reconstruir como indivíduo. Nas palavras do autor:
O processo alienador da
sociedade escravocrata havia contaminado de tal forma a consciência e o sentido
das ações humanas, que o trabalho aparecia como a qualidade anti-humana por
excelência, sendo necessário, por isso, que o homem negro se afirmasse primeiro
como ocioso, para sentir-se livre e poder recomeçar todo o caminho da lenta e
penosa reconstrução de si na sociedade de classes que começava a formar-se.
(CARDOSO, 1962, p. 279).
Esse estado de classe alienada, ainda escrava, para o
negro, mostra quão era insuficiente somente a liberdade, mas também condições
sociais, educacionais, e econômicas para poder viver nessa nova realidade que
foi lançada.
A exclusão, na nova lógica que se implantava (a transição
para o sistema de produção capitalista), era inevitável para o negro, pois sem
nenhum aprimoramento técnico sem nenhuma educação funcional não estavam, em sua
maioria, para servir de mão de obra para o capitalismo. Cardoso de Melo diz
que: “o escravo enquanto escravo é incapaz de manejar, ‘produtivamente’
técnicas que impliquem no emprego de máquinas” (MELLO, 1986, p.60), o que os
torna incapazes de se inserir nos moldes dos modos de produção que se
encaminhava a nação.
A nova condição de livre imposta ao negro o introduzia
numa nova realidade de classe social fora do sistema econômico de produção e,
sem trabalho, era desumanizado não só pelos anos de exploração que sofreram,
mas por não terem as mínimas condições econômicas e sociais para se
realizarem. Sérgio Lessa citando Marx
diz que:
Por
meio do trabalho que os homens não apenas constroem materialmente a sociedade,
como também lançam as bases para que se construam como indivíduos. A partir do
trabalho, o ser humano se faz diferente da natureza, se faz um autentico ser
social com leis de desenvolvimento histórico completamente distinta das leis
que regem os processos naturais. (LESSA, 2011 p. 17).
Celso Furtado, em seu livro Formação Econômica
do Brasil, diz que alguns negros, escravos da região cafeeira, tiveram o
privilégio de trabalhar por salários relativamente altos, só que o autor reconhece
que o livre não estava preparado para o tipo de trabalho assalariado. Furtado
diz que os efeitos dessa tentativa de trabalho assalariado fora antes negativas
do que positivas. Em suas palavras ele diz:
O homem formado dentro
desse sistema colonial está totalmente desaparelhado para responder aos
estímulos econômicos. Quase não possuindo hábitos de vida familiar, a ideia de
acumulação de riqueza é praticamente estranha. [...] Sendo o trabalho para o
escravo uma maldição e o ócio o bem inalcançável, a elevação do seu salário
acima de suas necessidades [...] determina de imediato a forte preferência pelo
ócio. (FURTADO, 2009 p. 212).
Como vemos na abordagem
de Furtado o negro estava limitado pelas agruras da escravidão que o limitou
não só no seu direito de liberdade física, mas também econômica educacional e
social, pois mesmo com a oportunidade de trabalho assalariado para alguns não
se adaptaram a esse sistema de produção, preferiram o ócio ao trabalho.
Cardoso (1962) diz que alguns negros tiveram
acesso ao trabalho nas mesmas condições do antigo regime (escravista), mas
agora com nome de “livre”. Não lhes estavam reservado direito algum, somente a
escolha de se submeter às antigas condições.
Com
efeito, o nego livre tinha que optar entre continuar trabalhando nas mesmas
condições que antes, com status formal de cidadão, ou reagir a tudo que o
trabalho desqualificado pela escravidão, significava, passando a viver na
ociosidade e no desregramento. Foi essa a alternativa; que os brancos criaram para
os negros. (CARDOSO 1962, p.279)
O autor diz que foi necessário passar pelo estágio de
ociosidade para poder superar as dificuldades que encontraram para se moldar
profissionalmente e educacionalmente a nova realidade, e isto lhes rendeu a
alcunha de que todo negro é ocioso, não gosta do trabalho.
Por outro lado Furtado
(2009) diz que: “Na região nordestina as terras de utilização agrícola mais
fácil já estavam ocupadas praticamente em sua totalidade á época da abolição.
Os escravos liberados que abandonaram os engenhos encontraram grandes
dificuldades para sobreviver”. Aqui vemos que os escravos da região nordestina
não tiveram a mesma “sorte” que os da região cafeeira, pois foram abandonados
rumo ao destino incerto de escolha, abandonados a sua continua desumanização.
Conclusão:
Como foi observado nas
proposições expostas acima, vemos que com um olhar mais critico no processo de
abolição a escravatura do Brasil há um desencantamento de todo o vislumbre que
se coloca na libertação dos escravos, isso se dá porque era necessário mais do
que uma simples libertação física, era imprescindível que o negro recém-liberto
tivesse emancipação econômica, emancipação social, e emancipação educacional
para o novo mundo que lhes foi descortinado. A falta desses elementos
supracitados culminou em uma forma de desumanização diferente à que ele era
submetido enquanto escravo. Nesta, enquanto escravo, mesmo de forma precária,
ele trabalhava, comia, se vestia etc.. Na outra, foram excluídos totalmente das
classes, eram apenas negros.
Referencias:
CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e Escravidão No Brasil Meridional: o
Negro na Sociedade Escravocrata do Rio Grande do Sul. São Paulo: DEL, 1962.
DAMATTA, Roberto. Relativizando: Uma Introdução à Antropologia
Social. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
FURTADO, Celso. Formação
econômica do Brasil. Edição comemorativa: 50 anos. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009.
LESSA, Sérgio; TONET, Ivo. Introdução à Filosofia de
Marx. São Paulo: Expressão Popular, 2011. Disponível em <http://sergiolessa.com/Livros2012/intrfilmarx2ed.pdf>
. Acesso em 03 de março de 2013.
MELLO, João Manuel Cardoso de. O Capitalismo Tardio. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.
PRADO JÚNIOR, Caio.Formação do Brasil contemporâneo:colônia. 8. ed. São Paulo: Brasiliense,
1987.
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